o rei menos o reino

Onde a Angústia roendo um não de pedra
Digere sem saber o braço esquerdo,
Me situo lavrando esse deserto
De areia areia arena céu e areia.

Este é o reino do rei que não tem reino
E que – se algo o tocar – desfaz-se em pedra.
Esta é a pedra feroz que se faz gente
– Por milagre? de mão e palma e pele.

Este é o rei e este é o reino e eu sou ambos
Soberano de mim: O-que-fui-feito,
Solitário sem sol ou solo em guerra
Comigo e contra mim e entre meus dedos.

Por isso minha voz esconde outra
Que em suas dobras desenvolve outra
Que em forma de som perde-se o Canto
Que eu sei aonde mas não ouço ouvir.

Augusto de Campos

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